sábado, 6 de fevereiro de 2010

HISTÓRIAS QUE FAZEM CRER-SER

Maria de Lourdes Lima da Fonseca
A TARTARUGA E O ESPELHO

Havia numa floresta, uma tartaruga muito rabujenta. Não se dava bem com ninguém. Sua maior preocupação era observar o que os outros animais sabiam fazer ou ,mesmo o que eles tinham e que ela não tinha.Sentia-se muito triste, inútil e sem qualidades. Chegou ao ponto de ninguém mais querer falar com ela, pois se tornara muito fechada e agressiva. A solidão foi incomodando muito, mas só se ouvia ela dizer:
Puxa, aquela lebre anda tão depressa, e eu, nessa lerdeza!
O papagaio fala tão bem, e eu, mal sei conversar !E assim ela seguia os dias reclamando...
Daí a pouco ela se enfezava e começava a xingar: ô tropa de bichos esquisitos, que papagaio falador! Que macaco trapalhão!Que lebre assustada!, olha essa preguiça, não sai do lugar!. No fundo, no fundo, ela estava brigada era com ela\ mesma, ela tinha muita inveja de todos os outros bichos.
Certo dia, a rainha e o rei das flores mandaram a todos os bichos, um convite para a festa da primavera e nesta festa, que acontecia todos os anos, os bichos costumavam exibir as suas melhores qualidades, ninguém queria faltar.
A tartaruga, com o convite na mão, ficou foi muito chateada. Ela não se sentia capaz de ir a uma festa tão famosa, triste do jeito que era e se sentindo a última das últimas.Começou a chorar e chorava, chorava, que acabou se dirigindo para debaixo do pé de manga, onde dizem que é o melhor lugar para se acalmar.Envolvida em soluços, ouviu alguém dizer:
- Ei! psiu!
- Quem está aí?- assustada perguntou.
- sou eu, o pé de manga!
- ora, onde já se viu pé de manga falar, você é planta e eu sou bicho. Isso não combina
- deixa de ser preconceituosa, tartaruga.Claro que posso me comunicar contigo. Afinal de contas nós fomos feitos pelo mesmo Criador e com o mesmo material, porém de formas diferentes.Assim, eu posso falar e você pode me entender. É só querer.
Está bem, já que consegui te ouvir, fala aí o que você quer.
- ora, eu só queria saber, porque você estava chorando?
- ah, eu não suporto mais esses bichos da floresta, aliás eu não me suporto mais. Não sirvo
pra nada, não sei fazer nada, ninguém gosta de mim .Nem vou conseguir ir à festa da
primavera.Pra quê? só vai ter bichos metidos, por lá!
- deixa de bobagem, tartaruga, disse o pé de manga. Você poderá ir, sim à festa. Eu posso
- te ajudar, dando uma sugestão.
- que sugestão? – perguntou a tartaruga
- sugiro que amanhã de manhã você fique um tempo diante do espelho e lhe faça aseguinte pergunta:
- diga-me espelho, quem sou eu?
• O quê? Lá vem você. Onde já se viu? Vai me dizer que o espelho também fala.Olha, ele
• não é gente, não é bicho e nem planta. Como pode ser isso?
- Vai por mim tartaruga, faça a experiência e volte para me contar o que ouviu.

A tartaruga, foi se embora e mal podia esperar o amanhecer do dia. Estava disposta a olhar par o espelho e ver o que aconteceria.
No dia seguinte, ainda meio sem jeito e meio desacreditada,lá estava ela diante do espelho a perguntar:
- Espelho, quem sou eu?
O espelho nada dizia
- Espelho quem sou?, perguntava de novo e o espelho continuava mudo.
Diante disto, a tartaruga, por incrível que pareça, não ficou zangada. Distraiu-se a olhar para si mesma, coisa que não fazia ha anos, pois só tinha olhos para os outros bichos.
De repente ela se vê diante de uma grande descoberta, e grita:
Eu tenho 4 patas! Puxa vida, nunca tinha reparado! Isso é legal. Quantos bichos só tem 2, outros, nenhuma e eu tenho quaaaaaatro patas!
Saiu correndo para contar ao pé de manga:
-pé de manga, eu acabei de descobrir que tenho 4 patas, posso me locomover com muita facilidade e isso me deixa muito feliz
O pé de manga, mais feliz ainda com o sucesso da experiência, incentiva:
- Continue assim, tartaruga! Amanhã, você voltará a olhar no espelho, irás descobrir novas coisas.
E assim foi feito. No outro dia, lá estava a tartaruga diante do espelho. Desta vez, ficou um bom tempo. Percebeu, enfim, que tinha o casco duro e isso foi a conta de iniciar uma série de afirmações:
Eu tenho o casco duro, posso ir para qualquer lugar sem sair de casa, posso andar tranqüila, sem medo de objetos que caem do céu, sem me machucar, tenho proteção, o tempo todo, isso é maravilhoso!!!!!!!!!!
Novamente se dirige ao pé de manga, aos pulos de felicidade.
Pé de manga, descobri mais uma coisa, tenho o casco duro e assim, falava sem parar sobre as suas descobertas
O pé de manga, sereno como ninguém a encorajava a continuar a sua pesquisa.Pediu que voltasse novamente ao espelho no dia seguinte.
E em plena madrugada, lá estava a tartaruga, curiosa para descobrir outros detalhes sobre ela própria.
Ficou tanto tempo diante do espelho, que quase dormiu e nada....olhava, pensava, observava com detalhes a si próprio e nada, até que lhe veio uma brilhante revelação: você é paciente, veja, ficou até agora diante do espelho, sem desistir.
É isso!!! Sou paciente e isto me deixa contente!! Percebo que também ando devagar e isto é bom, muito bom.Quem precisa de pressa para chegar?
Posso saber esperar as coisas acontecerem no seu tempo certo
Lá vai ela contar ao pé de manga, que lhe recomenda novamente voltar, pelo menos mais uma vez, lembrando que faltava apenas um dia para a festa da primavera .
E a coisa se repetiu, lá estava ela diante do espelho, dessa vez, esperou ainda mais tempo e como já se sentira orgulhosa por ser paciente, isso não foi problema.
Até que percebeu algo novo pra ela: era diferente de todos os outros seres e nunca havia pensado nisso.
Foi a conta, percebeu que a sua forma, o seu jeito, cor, gostos eram realmente diferentes, mas agora achava isso muito bom.
Foi correndo contar ao pé de manga, que lhe disse:
- muito bem, enfim, você chegou ao ponto-chave da questão: embora sejamos feitos da mesma matéria, guardamos diferenças importantes que nos tornam únicos. E agora, se sente capaz de ir à festa?
Claro!!! Já estou indo, tenho muito o que falar do que descobri
E no dia da festa, adivinha quem chegou primeiro?
- a tartaruga, claro! Ora, a lebre, corria muito, mas parava demais para descansar, os pássaros, confiantes na habilidade de vôo, saíram em cima da hora e ainda atrasaram os bichos que pegaram carona em suas asas e a tartaruga, na sua calma, não precisava parar para descansar, tranqüilamente chegou lá.
Na festa, ela era muito cortejada, pois a sua felicidade era tão grande que atraía para si todas as atenções. Integrou-se de tal maneira com os outros que em pouco tempo tornou-se a conselheira da floresta. Quem diria!!!!!